Pó de Basalto na Agricultura: Milagre ou Mito? O Que Diz a Pesquisa?

A busca por alternativas aos fertilizantes químicos solúveis tem levado muitos agricultores a experimentar insumos baseados em pós de rochas, um processo conhecido como rochagem1. Entre as rochas utilizadas, o basalto se destaca, sendo abundante em regiões como o Sul do Brasil. O basalto é uma rocha básica e magmática extrusiva, cujos principais componentes são minerais que podem ser fontes importantes de Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e micronutrientes.

Há relatos de agricultores e técnicos sobre melhorias na fertilidade do solo, aumento de produtividade e maior sanidade das plantas com o uso de pó de basalto. No entanto, a comprovação científica sobre sua efetividade ainda é escassa, especialmente em avaliações de médio a longo prazo.

Com o objetivo de contribuir para esse conhecimento, um estudo foi realizado para avaliar o efeito de diferentes doses de pó de basalto, com ou sem fertilização química convencional, na produtividade de soja e milho e em alguns atributos químicos do solo. A pesquisa foi conduzida durante quatro safras (de setembro de 2009 a abril de 2013) sob sistema de plantio direto (SPD).

Como o Estudo Foi Feito?

O experimento foi instalado em um Latossolo Vermelho Distrófico em Canoinhas, Santa Catarina7. Foram testadas cinco doses de pó de basalto (0, 2, 4, 8 e 12 toneladas por hectare) com granulometria muito fina. Essas doses foram combinadas com a presença ou ausência de adubação química, seguindo as recomendações para as culturas de milho e soja.

O pó de basalto foi aplicado uma única vez no início do experimento, em setembro de 2009, e parcialmente incorporado ao solo9. A sequência de cultivos incluiu soja e milho em rotação com aveia e ervilhaca9. A produtividade das culturas foi avaliada a cada safra, e amostras de solo foram coletadas periodicamente para análise química.

O Que os Resultados Mostraram?

1. Efeito no Solo:

  • Em geral, o pó de basalto pouco afetou os atributos químicos do solo avaliados ao longo do tempo.
  • Nove meses após a aplicação, não houve efeito significativo do pó de basalto na maioria dos atributos, exceto no K, que aumentou com a adubação.
  • Aos 14 e 21 meses, houve aumento linear nos teores de P, Cu, Mn e Fe com o aumento das doses de pó de basalto. Isso pode estar relacionado ao teor relativamente alto desses micronutrientes no pó de basalto utilizado.
  • Também foi observada uma redução nos teores de Ca e Mg com o incremento das doses de pó de basalto aos 14 e 21 meses. A redução de Ca e Mg pode estar ligada a processos de substituições no solo.
  • Após 42 meses (mais de três anos), não foi constatado efeito das doses de pó de basalto sobre nenhuma variável química do solo avaliada. Isso sugere que, no médio prazo e nas doses testadas, a solubilização do pó de basalto teve pouca contribuição para a melhoria da fertilidade do solo. O pH do solo também não foi afetado pelo pó de basalto até 42 meses.

2. Efeito na Produtividade das Culturas:

  • O pó de basalto não influenciou a produtividade de grãos de soja e milho em nenhuma das safras avaliadas, independentemente da presença ou ausência de fertilização química.
  • A adubação química convencional foi favorável ao rendimento da cultura do milho, mas não afetou a produtividade da soja.

Por Que o Pó de Basalto Não Teve Efeito?

Os autores sugerem que a ausência de efeitos significativos nos atributos do solo (exceto micronutrientes temporariamente) e na produtividade das culturas, mesmo após mais de três anos, pode estar relacionada ao baixo conteúdo de nutrientes do pó de basalto específico utilizado no estudo. Nas doses aplicadas, ele pode não ter sido suficiente para causar alterações duradouras na fertilidade do solo ou impactar o rendimento das plantas.

O Papel do Sistema de Plantio Direto

Um ponto importante destacado pelo estudo é que as produtividades de soja e milho se mantiveram em bons níveis mesmo sem a adição de insumos solúveis (na média de 3000 kg/ha para soja e 7000 kg/ha para milho)19. Isso leva à reflexão sobre o papel crucial dos sistemas de manejo conservacionistas, como o plantio direto, em manter a qualidade e a fertilidade do solo ao longo do tempo.

O manejo adotado no experimento, incluindo o plantio direto, a rotação de culturas e a manutenção da cobertura do solo, permitiu adicionar uma quantidade considerável de biomassa anualmente ao solo. Os resultados sugerem que essa prática contribuiu de forma mais consistente para a manutenção do sistema produtivo do que a adição de pó de basalto ou mesmo a adubação química no caso da soja.

Em Resumo:

As conclusões do estudo indicam que, para o pó de basalto e nas condições avaliadas:

  • Não houve influência na produtividade de soja e milho.
  • O pH do solo não foi alterado.
  • Houve aumento temporário de alguns micronutrientes (Zn, Cu, Fe, Mn) e P.
  • Houve redução temporária dos teores de Ca e Mg.
  • No geral, o pó de basalto utilizado pouco contribuiu para a melhoria da fertilidade do solo a médio prazo.
  • O estudo reforça a importância do manejo sustentável do solo, como o plantio direto e a rotação de culturas, na manutenção da qualidade e produtividade do sistema agrícola

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