Pó de Rocha na Agricultura: Uma Alternativa Sustentável para Fertilização de Plantas Forrageiras

Introdução

Em um contexto crescentemente voltado à sustentabilidade, o uso de pó de rocha tem se destacado como uma alternativa promissora para a fertilização de plantas forrageiras. Um estudo da Embrapa Gado de Leite , apresentado no Comunicado Técnico 96 , traz informações sobre os benefícios e desafios dessa prática em sistemas de produção integrada, especialmente com espécies como braquiária (Urochloa spp.) e capim-elefante (Megathyrsus maximus) .

O alto custo dos fertilizantes industriais, aliado ao impacto ambiental de sua produção, reforça a necessidade de fontes alternativas de nutrientes. O pó de rocha surge como solução viável, oferecendo macro e micronutrientes essenciais às culturas forrageiras, além de melhorar as condições físicas e químicas do solo.


Por Que Usar Pó de Rocha?

O Brasil é altamente dependente de fertilizantes importados — cerca de 94% do nitrogênio e 96% do potássio utilizados no país vêm do exterior. Esse cenário torna a agricultura nacional vulnerável economicamente e ambientalmente insustentável a longo prazo.

O uso de pó de rocha pode ajudar a reduzir essa dependência, trazendo diversos benefícios:

  • Liberação lenta de nutrientes , ideal para culturas perenes;
  • Melhoria da fertilidade do solo , aumento do pH e da capacidade de troca catiônica (CTC);
  • Fonte de potássio, cálcio, magnésio, ferro, zinco, entre outros ;
  • Sustentabilidade , com menor impacto ambiental e aproveitamento de resíduos minerais.

Além disso, está alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) , principalmente o ODS 2 , que visa promover sistemas agrícolas sustentáveis.


Aplicações Práticas em Plantas Forrageiras

Experimentos conduzidos pela Embrapa em diferentes regiões do Brasil mostraram que o pó de rocha pode substituir com eficiência o cloreto de potássio (KCl) em sistemas de integração lavoura-pecuária.

Exemplo em Uberlândia-MG

Um experimento avaliou o uso de três tipos de rochas como fonte de potássio (biotita xisto; brecha piroclástica e flogopita), em doses equivalentes a 0 kg/ha; 100 kg/ha; 200 kg/ha e 400 kg/ha de K₂O, comparando com o cloreto de potássio (200 kg/ha).

Resultados principais:

  • Com biotita xisto , houve maior altura e produção de massa verde da braquiária na dose de 100 kg/ha de K₂O .
  • A brecha piroclástica e a flogopita não apresentaram diferenças significativas nas mesmas doses.
  • Em geral, o pó de rocha mostrou-se adequado como fonte de potássio, com resultados próximos ou superiores aos fertilizantes tradicionais.

Estudos Regionais com Diferentes Rochas

Outros estudos também foram realizados:

Em Araras, SP

Avaliou-se o efeito da vinhaça na solubilização do pó de basalto em solos argilosos e arenosos. Os resultados indicaram:

  • Maior disponibilidade de Ca, Mg e K nas camadas superficiais do solo com aplicação conjunta de vinhaça e pó de rocha.

Em Fortaleza, CE

Testou-se o sienito nefelínico e a brecha em solo arenoso. Verificou-se:

  • Menor eficiência na correção do pH em comparação ao calcário.
  • Porém, forneceram fósforo, ferro e manganês (brecha) e potássio, fósforo e cobre (sienito nefelínico) .

Em Dourados, MS

Analisou-se o pó de basalto em Latossolo Vermelho Distroférrico. Constatou-se:

  • Melhora nos teores de matéria orgânica, P disponível e K trocável no solo.
  • Resultados positivos tanto com quanto sem adição de NPK.

Em Unaí, MG

Produziu-se compostos organominerais com calcixisto, micaxisto e fonolito . Destaque para:

  • Fonolito como melhor fonte de potássio .
  • Calcixisto com maiores teores de cálcio e magnésio .

Normatização e Garantias Físicas

De acordo com a Instrução Normativa n° 5 do MAPA (2016) , os remineralizadores devem seguir critérios específicos:

Tipo Granulometria Passante (%)
Filler 0,3 mm (ABNT n° 50) 100%
2,0 mm (ABNT n° 10) 100%
Farelado 4,8 mm (ABNT n° 4) 100%

Além disso, é necessário garantir teores mínimos de bases (CaO + MgO + K₂O ≥ 9%) e limites máximos de elementos tóxicos como arsênio, chumbo e mercúrio.


Desafios e Perspectivas Futuras

Apesar dos avanços, ainda existem alguns desafios:

  • Baixa solubilidade : Requer planejamento estratégico e adaptação de manejo.
  • Custo logístico : Apesar de ser local, o transporte em grandes quantidades pode encarecer a operação.
  • Falta de recomendações oficiais : Há necessidade de mais pesquisas e diretrizes técnicas.

No entanto, com investimentos contínuos em pesquisa e divulgação técnica, o pó de rocha pode se consolidar como uma ferramenta fundamental para a transição agroecológica .


Conclusão

O uso de pó de rocha nas plantas forrageiras representa uma abordagem inovadora e sustentável para melhorar a produtividade das pastagens e a saúde do solo. Estudos recentes confirmam sua eficácia como fonte de potássio e corretivo de acidez, especialmente em sistemas integrados de lavoura-pecuária.

Essa prática não apenas reduz custos com fertilizantes, mas também contribui para a segurança alimentar, mitigação de mudanças climáticas e conservação dos recursos naturais .


Referências

  • BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 5/2016.
  • ROCHA et al. Uso de pó de rocha em plantas forrageiras . Embrapa Gado de Leite, 2023.
  • ESCOSTEGUY, P. A. V.; KLAMT, E. Basalto moído como fonte de nutrientes . Revista Brasileira de Ciência do Solo, 1998.
  • MIRANDA, C. C. B. et al. Desenvolvimento de Urochloa brizantha adubada com fonolito . Revista de Ciências Agrárias, 2018.
  • RAJÃO, R. et al. Crise dos fertilizantes no Brasil . Informe Agropecuário, 2023.

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